domingo, 8 de outubro de 2006

Eleições Brazil-2006: 2º turno

Um amigo enviou declarações do "Chico" (Chico Buarque de Hollanda) sobre o momento político-eleitoral-cultural e acabei respondendo. Resolvi postar aqui a resposta que mandei.
Nunca pensei que votaria em branco algum dia. Pois acho q é o q farei.
Fiquei contente com a existência do segundo turno, me irritava a possiblidade do Lula levar de primeira, sem discussão, sem nada. Acho que a assessoria política do Lula, e o Lula, neste caso, foram muito, muito burros. Não digo burros pque o lula é isso ou aquilo, foi pobre, etc. é pque considerei politicamente burresco não participar de debate. Acredito que se o lula tivesse lavado o rosto, respirado fundo, afrouxado um pouco a gravata na goela e ido ao debate, ele teria ganho a eleição de primeira. diferença pequena de votos, sim, mas teria ganho. Mas, o que adianta? o "se" em história real não existe.
Ia votar em branco de primeira, mudei na última hora. só não votei na soror heloísa porque não sabia o número dela, daí, votei no 45. tentando ajudar a ter segundo turno. não tenha mais paciência pra votar no "menos ruim", fiz isso a vida toda, entre honrosas excessões que sempre foram os poucos bons candidatos, contados sempre sem usar todos os dedos das mãos e pés. e dos dois, agora, quem é o menos ruim? nunca fui petista, sempre tive vários candidatos do psdb, do atual pps e até do pt - não pelo partido, mas pelas "pessoas".
votei tudo em branco, exceto pro senado - a véia Suplicy - e pra presidente. de resto, meu voto foi Ku Klux Klan. Não votei no Serra porque ele disse que vai colocar duas professoras em cada sala de aula do ciclo básico - não vou debater, é ridículo demais, é um vexame, sinto-me ofendido com a proposta - e não poderia votar no Alckmin pque seu candidato a vice, graças a deus esqueci até o nome, acho que é PFL, que importa? - disse, num comício sei lá onde, eu li, não desmetiram, que o atual presidente só sabia viajar, não trabalha e bebe. Não sei citar a frase literalmente, mas ele disse isso. Não dá. Não porque seu Lula seja um santo, nem sou advogado dele, mas um homem que se pretende público, que pretende assumir cargo público e na posição de vice, não pode se referir ao presidente do país dessa forma. Não pode e pra mim, decidido depois de completar cinquenta a não me preocupar se estou generalizando e exercer a generalização, sobre qualquer assunto, a hora que quiser, se fala desse jeito, não tem desculpa, não serve como vice. Homem público tem de cuidar do que fala e de como fala.
Nunca fui petista, votei em vários candidatos petistas, em várias e várias eleições e momentos. O PT nasceu arrogante, nasceu com a bandeira "antes e depois de nós" veio pra trazer rios de mel e ambrosia ao país dos coitados. Se o Lula é legal? Deve ser, sei lá. A família e os amigos que o digam. Não vou votar nele pque por mais que ele seja honesto, legal, dedicado, sei lá o que mais, nunca se vota só nele, vota-se nele e quem virá junto com ele. Não gosto do PT, digo isso agora, nunca disse. Se o PT, como sempre alardeado, fosse um partido diferente dos demais, ideológico, não haveria presidente nacional do partido fazendo o que bem quisesse, presidente eleito dizendo que não sabe de nada, militante "desgostoso com o rumo do partido" e outros etceteras. Eu, como dizem por aí, "eu, pessoalmente", sempre fui linha justa. Ação partidária exige ação conjunta, democrática sim, noutra forma, não essa de cada um faz o que quer - ação partidária exige união, que a definição final do grupo sobreponha-se à ação individual. É assim que funciona um partido, sempre fui e ainda acredito na "linha justa", maioria sobrepõe-se à minoria, vamos lutar. Não tenho mais vida partidária, acho q não conseguiria voltar a ter. Então, não voto no lula pque não acredito em demagogia, e há muita, em muita ação do governo, não acredito no pt como alternativa partidária, etc.
Ah, o Chico. Não estou nem aí se isso vai ser bom ou não pro destino do pt. acho apenas que ele deveria assumir uma crítica ao partido como faz o Suplicy (não como sempre fez nosso gordo vice presidente ao governo, um empresário bacana ao lado dos coitados): de dentro, pra dentro e sempre com o partido. O suplicy é um homem de partido, eu respeito isso. e, curiosamente, apesar do pt, voto nele. não votei na erundina pque não dá pra votar no psb, jesus. Respeito erundina por ter saído do pt - foi abandonada pelo partido durante sua administração - tanto quanto respeito suplicy por não sair. tou cansado, não vou explicar agora. Acho que o sr. chico buarque de hollanda deveria assumir sua identidade partidária, sua carteirinha, e parar de fazer críticas como se pairasse acima das nuvens e dos partidarismos, ninguém é assim. é por isso que acho compreensível a atitude de gente como wagner tiso e paulo betti, falando besteira mas assumindo uma posição mais clara. coitados, dois indigentes, a despeito do talento artístico.
Céus, não tenho mais idade e energia pra isso. estou me acabando. finalmente, acho marketing ruim o chico buarque fazendo papel de advogado bem intencionado, que nem em filme americano, meio radical, meio liberal, meio bom moço. o mundo não é branco e preto.
E estão querendo transformar o mundo de novo em branco e preto - ao menos no brasil. ou se está com lula, ou, como alguem me disse ao telefone, com a elite branca, alckmin. eu acho q a vida não é assim, é mais "comprexa".
(...), só escrevi tudo isso pque adoro vc e me senti a vontade pra desabafar e dizer mais o que sinto do que propriamente o que penso. sei lá o que isso quer dizer. eu quero apenas ir votar não porque a legislação me obriga, mas pque sempre achei e sempre vou achar que o voto é muito importante pra ser trocado por uma tarde de churrasco. os dois podem conviver perfeitamente. só quero que o voto deixe de ser obrigatório.
Me resta um consolo. Talvez, atenção, eu disse talvez, com a eleição de Clodovil nossos parlamentares passem a ter uma apresentação melhor, ternos melhor cortados, etc.
Um abraço
sizenando

5 comentários:

Marco Aurélio disse...

Acredito que o candidato tucano explore os escândalos de corrupção ocorridos no governo e na campanha petista, principalmente o da suposta compra de um dossiê contra candidatos do PSDB por parte de membros do PT. Deve também explorar o baixo índice de crescimento da economia brasileira, que só perde para o Haiti na América Latina, e provavelmente terá que enfrentar as comparações que Lula deve fazer entre os quatro anos seu mandato e os oito do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. De qualquer jeito acho que os dois deviam ser teletransportados para uma galáxia distante.

Um abraço

Marco Aurélio

sizenando disse...

obrigado pela visita.
devo registrar minha preocupação com os custos de uma operação de teletransporte.

Serbon disse...

bom... e fiquei interessado em ler os argumentos do e-mail que originou esta resposta.

em tempo - votar no Lula é f***, mas no Alckmin é pior ainda. o cara cita Santo Agostinho no debate, o que é proibido pela Convenção de Genebra, e ninguém fala nada? cadê a imprensa nestas horas???

Sizenando disse...

serbon tem razon. simisquecí completamente, é a coisa correta.
Aí vai:
"Chico Buarque fala sobre eleição

Chico Buarque também se posiciona sobre eleição presidencial.

Chico Buarque: lucidez e coerência

A cada uma de suas entrevistas, o compositor e cantor Chico Buarque de
Holanda sempre surpreende por sua lucidez e enorme coerência. Agora,
no lançamento do seu novo CD, Carioca, ele novamente brilhou ao falar
sobre a situação política brasileira. A direita deve ter ficado
furiosa, com saudades dos tempos da ditadura militar que o perseguiu e
censurou; a esquerda "rancorosa" deve ter ficado ressentida com seus
irônicos comentários; já os setores da sociedade que, mesmo críticos
das limitações do governo Lula, não perderam a perspectiva, ganharam
novo impulso criativo para a sua atuação. Mas é melhor deixar o poeta
falar, pinçando trechos das suas entrevistas na revista Carta Capital
e no jornal Folha de S.Paulo:

Sobre a crise política:

É claro que esse escândalo abalou o governo, abalou quem votou no
Lula, abalou sobretudo o PT. Para o partido, esse escândalo é
desastroso. O outro lado da moeda é que disso tudo pode surgir um
partido mais correto, menos arrogante. No fundo, sempre existiu no PT
a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o
PSDB acha que você ou é tucano ou é burro (risos).

Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas
principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do
governo mais corrupto da história do Brasil é preciso dizer 'espera
aí'. Quando aquele senador tucano canastrão diz que vai bater no Lula,
dar porrada, quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante - aí
estão errando muito a mão. Governo mais corrupto da história? Onde
está o corruptômetro? É preciso investigar as coisas, sim. Tem que
punir, sim. Mas vamos entender melhor as coisas. A gente sabe que a
corrupção no Brasil está em toda parte. E vem agora esse pessoal do
PFL, justamente ele, fazer cara de ofendido, de indignado. Não vão me
comover...

Preconceito de classe.

O preconceito de classe contra o Lula continua existindo - e em graus
até mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca vi igual.
Acaba inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o
sujeito mais humilde ouve e pensa: 'Que história é essa de burro!? De
ignorante!? De imbecil!?'. Não me lembro de ninguém falar coisas assim
antes, nem com o Collor. Vagabundo! Ladrão! Assassino! - até assassino
eu já ouvi. Fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente.
Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a
reeleição. Finalmente, como se fosse uma concessão, deixaram Lula
assumir. 'Agora sai já daí, vagabundo!'. É como se estivessem
despachando um empregado a quem se permitiu o luxo de ocupar a Casa
Grande. 'Agora volta pra senzala!'. Eu não gostaria que fosse assim.

Eu voto no Lula!

A economia não vai mudar se o presidente for um tucano. A coisa está
tão atada que honestamente não vejo muita diferença entre um próximo
governo Lula e um governo da oposição. Mas o país deu um passo
importante elegendo Lula. Considero deseducativo o discurso em voga:
'Tão cedo esses caras não voltam, eles não sabem fazer, não são
preparados, não são poliglotas'. Acho tudo isso muito grave.

Hoje eu voto no Lula. Vou votar no Alckmin? Não vou. Acredito que,
apesar de a economia estar atada como está, ainda há uma margem para
investir no social que o Lula tem mais condições de atender. Vai ficar
devendo, claro. Já está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso:
'Quero ser cobrado, vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá
cercado de puxa-sacos'. Ouvi isso dele na última vez que o vi, antes
dele tomar posse, num encontro aqui no Rio.

Sobre o PSOL.

Percebo nesses grupos um rancor que é próprio dos ex: ex-petista,
ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa gente que está muito
próxima do fanatismo, que parece pertencer a uma tribo e que quando
rompe sai cuspindo fogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão
crescer para cima do PT e eventualmente ajudar o adversário do Lula.


Papel da mídia.

Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a mídia ecoa muito
mais o mensalão do que fazia com aquelas histórias do Fernando
Henrique, a compra de votos, as privatizações. O Fernando Henrique
sempre teve uma defesa sólida na mídia, colunistas chapa-branca
dispostos a defendê-lo a todo custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é
concurso de porrada para ver quem bate mais.


MANIFESTO
Sobretudo, não votar em Alckmin
Diante da proximidade do final do primeiro turno das eleições
presidenciais, faz-se necessário vir a público a fim de dizer que não
há razão alguma para votar no candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.
Fatos recentes relativos a dossiês e novos personagens envolvidos com
o escândalo das sanguessugas aumentaram a temperatura da, até então,
mais "morna das eleições" entre tantas ocorridas desde a
redemocratização. Editoriais, diretores de redação de jornais e
revistas, articulistas que se apresentam como "formadores de opinião
pública", todos comprometidos com o chamado "jornalismo investigativo
e independente", têm vindo a público defender o voto em Alckmin para
que o mesmo seja içado ao segundo turno. No entanto, vale a pena
lembrar que a forma mais cínica de totalitarismo é a moralidade
seletiva.

Desde a eclosão do escândalo dos sanguessugas pairam enormes dúvidas
sobre a conivência ou não dos ex ministros da saúde com o esquema de
superfaturamento das ambulâncias. Nesse caso, o tucano José Serra
aparece com indícios fortes de implicação direta ou, no mínimo,
conivência. Mais de 70% das ambulâncias superfaturadas foram liberadas
em sua gestão no Ministério, várias para o Estado de São Paulo, do
então governador Geraldo Alckmin.

Estranho, para não dizer surpreendente, que o "jornalismo
investigativo e independente" de nosso país, não tenha se atentado
para essas questões na última semana. Será que estão satisfeitos com a
nota publicada por Serra nos jornais se inocentando e dizendo que nada
sabia? Por que para o "jornalismo independente e investigativo" o peso
do "nada sabia" de Serra vale como declaração de idoneidade?

Esta "dupla medida" em relação à corrupção tucana indica o que
acontecerá em um provável governo Alckmin. Pois, a respeito de
Alckmin, não seria difícil lembrar aqui que, durante toda a campanha,
o candidato tucano contentou-se em remixar um discurso arcaico de
direita, com direito a bravata contra impostos, "gastança" pública,
promessa de redução do Estado, de reformismo infinito da previdência e
laivos de indignação contra a corrupção (na qual seu próprio partido
está organicamente envolvido).

Ou seja, nada mais do que um candidato de direita em qualquer parte do
mundo faria desde o início do século XX. Acrescenta-se a isto uma
simpatia temerária por entidades proto-fascistas como a Opus Dei. Mas
vale a

pena tecer algumas considerações demoradas sobre os seus dois maiores
pilares: ética e competência.

Podemos claramente imaginar o que acontecerá se Geraldo Alckmin ganhar
a eleição. Ele irá impor uma lógica de abafamento e impedimento de
CPIs que funcionou maravilhosamente bem na Assembléia Estadual de SP.
Uma lógica a respeito da qual seu partido é especialista, já que os
oito anos FHC foram marcados pela impossibilidade de investigar a
fundo todos os escândalos que marcaram o governo. Quem não se lembra
da presteza do chamado "engavetador-geral da República", Geraldo
Brindeiro?

Alckmin aprendeu muito bem esta lógica, tanto que nada foi investigado
a respeito das suspeitas de compra de deputados estaduais via Nossa
Caixa, das suspeitas de corrupção em órgão públicos como a CDHU, o
Rodoanel, as privatizações de São Paulo, as doações de vestidos à sua
mulher, a subvenção à revista de seu acumputurista, entre outros
tantos. São mais de 60 CPIs arquivadas. Número dificilmente superável.

O Brasil quer voltar a esta época da corrupção silenciosa e
"profissional"? Basta ver que sempre quando um tucano está em linha de
mira, quando um mensaleiro tucano é descoberto (Azeredo), quando uma

ligação com os sanguessugas é desvendada (Serra, Antero Paes de
Barros), quando esquemas de financiamento ilegal são apontados
(Furnas), as investigações param, tomam outro rumo e a imprensa perde
gradativamente o interesse.

Ou seja, nenhuma indignação ética pode justificar um voto em Geraldo
Alckmin e seu partido. Alckmin é aquele que, diante do fato de até
mesmo FHC reconhecer que seu partido não teve a mínima dignidade ética
ao fazer tudo para livrar a cara de Eduardo Azeredo, respondeu nada
querer falar sobre o assunto. É com este silêncio que ele tratará
todos os escândalos que envolveram seu partido nos últimos dez anos.
Por outro lado, sua alegada competência não resiste a uma análise
isenta. Sua política desastrada de segurança pública alimentou a
criação do PCC.

Ao ver o resultado desastroso de sua política de segurança, baseada
apenas na truculência, no Encarceramento e no extermínio, Alckmin foi
sequer capaz de uma mínima auto-crítica: "Se houvesse algum problema,
eu já teria identificado", foi o que ele disse a este respeito.
Retrato clássico da arrogância de quem não consegue aprender com os
próprios erros. Ao contrário, ele preferiu transferir
responsabilidades dizendo que o culpado era o governo federal,
chegando a insinuar que algo como o PCC só poderia existir devido a
algum conluio eleitoral, como se ele nada tivesse a ver com o
problema. Isto a ponto de um jornalista ter-lhe dito: "Então tudo deu
errado porque o senhor fez tudo certo?". Como se não bastasse, este
"tocador de obras" conseguiu atrasar as datas de entrega de todas suas
grandes obras. Sua política de educação colocou as universidades
estaduais à míngua, algumas não têm sequer condição de pagar contas
correntes. Seu secretário de Educação (Chalita) chegou mesmo a maquiar
números a fim de tentar esconder os resultados calamitosos de sua
política.

Não é por outra razão que, mesmo em seu Estado, Alckmin passou toda a
campanha política em segundo lugar. Quem conhece Alckmin não parece
disposto a votar em Alckmin. As razões acima e as dúvidas não
respondidas nem pelos candidatos nem pelo "jornalismo investigativo e
independente" dão a certeza de que o voto em Alckmin, de modo algum,
representa o resgate da moralidade pública e, muito menos, o avanço
das instituições democráticas republicanas.

Ao contrário, ele representa a volta da corrupção silenciosa, da
complacência da mídia, da criminalização dos movimentos sociais e da
agenda direitista mais pura e dura. Por isto, vários movimentos
sociais, como o MST, a UNE e a CUT, dizem: sobretudo, não votar em
Alckmin.

Serbon disse...

muito bom este depoimento também.
eu concordo. Alckmin é um mal que deve ser matado no ninho.
antes o candidato deles fosse o Serra, pragmático, amoral mas muito mais competente.