sexta-feira, 30 de junho de 2006

Lembranças de quando havia vida política no Brasil - junto com o PCB

Lembranças. Memórias soa meio pretensioso.

Falei do sr.Roberto Freire respeitosamente, exagerando propositalmente, ou melhor,
naturalmente - ao fazer meus cinquenta anos, decidi que tenho direito a usar e abusar
de generalizações a meu bel prazer - enquanto o culpava por me sentir empurrado a
votar em branco, com aspas, pela primeira vez na vida. Isto porque devo muito de
minhas idéias e do aprendizado da vida ao velho PCB - Partido Comunista Brasileiro.
Acreditava piamente, anos atrás, que o PT faroleiro que nascia, pretendendo dividir
a história política brasileira na base do antes e depois do petismo, em pouco tempo
perderia o fôlego com suas fanfarronices. E que o PCB encontraria o caminho pra
reocupar o cenário político tomado pelo PT - o PCB, lembrem-se, que em meio a
luta pela redemocratização deste torrão deu de ombros pra clandestinidade e
(quase que sozinho) reconquistou seu espaço de atuação legal em solo democrático.
Qual o que. Paciência, a sigla foi trocada pra PPS, não gostei mas lembro da alegria
que senti quando pude votar no Roberto Freire pra Presidente desta joça!
Voltando ao qual o que. É que o PT acabou chegando até aqui, não vou tentar analisar
nada, não sei porque diabos o PCB de então não conseguiu encantar o eleitorado e,
agora, não consegue escapar do "voto menos ruim". Mas eu me lembro de tanta coisa!

1. Lembro de descer a Av.Lins de Vasconcelos, São Paulo, capital, aos sábados, minha
filha me acompanhava,ela estava com o que? seis, sete anos? vejo depois... Minha ex-mulher costurou com um tecido grosso, marrom, acho que a mãe dela ajudou, uma bolsa que eu cruzava no ombro, levando exemplares do VOZ DA UNIDADE, jornal editado pelo Partido, pelos comunistas, finalmente à luz do dia, embora ainda não legalmente, escapando à clandestinidade
e afrontando a injusta ilegalidade. Entregava em alguns pontos, colocava à venda, recolhia
o encalhe, cobrava os jornais vendidos - já exercia como jornaleiro sem imaginar que
um dia acabaria dentro de uma banca de jornal ! Havia um jornaleiro, quase no final da Lins,
o bairro é Cambuci, que me atendia com muito respeito, me encorajava, discutia um pouco
política comigo, pagava os jornais vendidos - dois ou três, por semana. Era um simpatizante.
Um dia deu de presente à minha filha uma baratinha de plástico, marrom, incrivelmente feia!
Minha filha adorou e eu sempre sempre o gesto do jornaleiro com respeito e carinho, foi o
jeito dele me agradar sendo atencioso com minha filha. Isso foi no século passado, mais
de vinte anos atrás.
O dinheiro arrecadado eu entregava na redação do jornal, junto com o encalhe. Fiz um trabalho
exaustivo mas com gosto. Não lembro quanto tempo durou... já havia saído da faculdade, já
deixara a base estudantil e havia formado uma base no bairro, um trabalho inicial, ainda incipiente, mas como era bom fazer... Não lembro direito quando parei com a distribuição...
tem, eu sei, relação com o fato de eu ter feito um mapa detalhado, com as bancas e pontos de venda, rua por rua, identificando o bairro e tipos de atividades em cada área, detalhado onde vendia quanto, entregando o serviço com comentários, sugestões, vendo o mapa como referência
para ser pensada e repensada a ação do partido na região e, claro, como exemplo a se
estender a outras áreas. O mapa foi recebido com um muito obrigado por parte do dirigente
nacional do Partido que estava à frente da direção digamos política do jornal - caramba, esqueci
o nome, velha guarda experiente, vindo da área sindical, esqueci... vou lembrar no meio do
caminho. E assim ficou. Ninguém me chamou pra discutir a experiência ou me incorporar a alguma atividade relacionada à organização cultural ou de imprensa ou sei lá o que.
Não consegui transmitir essa vivência, ve-la incorporada por outros companheiros ou outras
instâncias do Partido - ou mesmo do jornal. Não, não estou querendo falar mal dele não,
nem do Partido. É sabido que os partidos políticos brasileiros não têm projeto cultural ou
educacional e o PCB não fugia à regra, por mais que tenha, através de seus membros,
simpatizantes e militantes sido muito influente na produção cultural brasileira. Isso é uma
coisa, mas ter projeto de ação, nacional, relacionado à produção e difusão cultural é outra.
É bom lembrar que já tive vida político-partidária.

sexta-feira, 2 de junho de 2006